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Reciclagem é a resposta do setor do plástico para evitar banimento

Jefferson Klein

Vendo várias leis restritivas proliferarem por diversas cidades brasileiras, a indústria do plástico tem se preocupado em evitar que cada vez mais seus produtos sofram impedimentos para serem comercializados. Os principais alvos da vez são as sacolas e os canudinhos, mas o receio é que as proibições sejam estendidas a outros itens. Para tentar reverter essa imagem negativa, os empreendedores do setor estão apostando no aumento da reciclagem como resposta. “Se nós conseguirmos fazer a separação e o descarte correto, colocando o material para reciclagem, nós terminamos com todos os problemas de demonização do plástico”, sustenta o presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul (Sinplast-RS), Gerson Haas. O dirigente lamenta que o Plano Nacional de Resíduos Sólidos foi proposto há anos no brasil e a maioria dos municípios não implementou as suas diretrizes. “Como as coisas vão funcionar? É mais fácil o poder público dizer que A, B ou C não presta do que fazer a sua própria parte”, afirma o empresário. Para Haas, as leis a respeito dos produtos plásticos precisam ser mais educativas do que proibitivas. “Parece que há alguns legisladores que querem aparecer nos jornais”, considera. O presidente do Sinplast-RS diz que, dentro do segmento de transformação, um dos nichos mais afetados são as fábricas de canudinhos. Em contrapartida, o dirigente destaca que, embora alguns mercados estão começando a apresentar obstáculos para os artigos plásticos, outros setores estão cada vez mais abertos, como a indústria automobilística, da aviação e da saúde. “Outra coisa, você daria para seu filho pequeno um canudo de metal?”, questiona. Haas recorda que uma idosa inglesa teve um acidente fatal ao cair e ter o olho perfurado por um canudo metálico. Sobre as leis que estão surgindo e proibindo o uso de sacolas ou canudinhos plásticos, o diretor-executivo da Strawplast, Sandri Schlickmann, comenta que as normas estão sendo feitas sem adotar um critério mais técnico. A empresa catarinense de descartáveis atua com produtos tradicionais da cadeia do plástico, mas também adotou artigos como canudos biodegradáveis e de papel, Schlickmann diz que a intenção do legislador ao proibir itens de plástico, teoricamente, sempre é boa, porque não quer ver lixo no mar ou nas praças. “Só que ele não vai resolver o problema”, adverte. Para o executivo, trocar um material por outro não soluciona a questão, é preciso educar as pessoas e promover a coleta seletiva. O diretor-executivo da Strawplast considera que as leis de proibição aos plásticos viraram uma espécie de moda e que estão sendo usadas, por algumas pessoas, como promoção. “Não adianta nada usar um produto biodegradável, por melhor que ele seja, se a gente não descartar adequadamente”, frisa. Como empresa, o dirigente afirma que é preciso se adaptar, mas é um cenário de incertezas. Schlickmann diz que a Strawplast já estava analisando disponibilizar produtos biodegradáveis e de papel ao mercado, porém, com as proibições que foram surgindo ao plástico, esse processo foi acelerado. O dirigente admite que as restrições dos canudos plásticos acarretaram um impacto maior na questão de quantidade de produtos vendidos pela empresa (uma queda de 35% em volume), mas, como os canudos de papel e biodegradáveis têm um valor agregado maior, as receitas não sofreram grandes reflexos. Contudo, Schlickmann antecipa que, se leis mais duras forem impostas, deverão ocorrer demissões dentro do setor de transformação de uma maneira em geral.

Há divergências quanto a volumes reaproveitados

Se a necessidade de aumentar a reciclagem é um consenso, os números quanto à essa atividade não são. Enquanto entidades ligadas ao setor do plástico apontam um índice maior de reaproveitamento dos rejeitos, outras instituições associadas ao meio ambiente indicam um problema ainda mais grave no Brasil.

Um estudo do WWF (Fundo Mundial para a Natureza), publicado em março deste ano e chamado “Solucionar a Poluição Plástica: Transparência e Responsabilização”, afirma que o País, segundo dados do Banco Mundial, é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia (dados de 2016).

Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), mas apenas 145 mil toneladas (1,28%) foram efetivamente recicladas, ou seja, reprocessadas na cadeia de produção como item secundário.

Segundo o trabalho, esse é um dos menores índices da pesquisa e bem abaixo da média global de reciclagem plástica, que é de 9%. O levantamento realizado pelo WWF analisou a relação com o plástico em mais de 200 países, e apontou que o Brasil produz, em média, aproximadamente 1 quilo de lixo plástico por habitante a cada semana.

Logo após a divulgação desse relatório, a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) se manifestou considerando que, em relação ao dado de que somente 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas, era uma informação superestimada, assim como a imputação de que “o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo”, com 11,3 milhões de toneladas produzidas.

Dados mais recentes da entidade, contidos dentro do trabalho “Perfil 2018 – Indústria Brasileira de Transformação e Reciclagem de Material Plástico”, apontam que em 2015 verificou-se uma retração do índice de reciclagem (de 26,7% para 22,2%) muito relacionada com a fraca demanda decorrente do ano recessivo da economia brasileira. Entretanto, no ano seguinte, registrou-se uma melhora com o índice atingindo 25,8%, com a indústria produzindo 550 mil toneladas de plástico reciclado pós-consumo.

Proibição de canudinhos vigora em Porto Alegre em 2020

Ideia é reduzir a utilização de materiais que estão fora da lista de itens considerados essenciais
Ideia é reduzir a utilização de materiais que estão fora da lista de itens considerados essenciais. /LUIZA PRADO/JC

No dia 1 de fevereiro, foi publicada no Diário Oficial de Porto Alegre a lei 12.514/19 que proíbe a distribuição e a venda de canudos flexíveis plásticos descartáveis em restaurantes, bares, lanchonetes, quiosques e estabelecimentos similares ou por ambulantes na capital. Foi dado ao comércio e vendedores um ano para se adaptarem à lei. Quem descumprir a regra estará sujeito à multa que será aplicada em dobro se houver reincidência.

O projeto de lei do vereador Marcelo Sgarbossa (PT) não se aplica a canudos de papel ou de material biodegradável, além de fazer exceção para pessoas com deficiência ou que estejam impossibilitadas temporariamente de beber líquido sem a utilização de canudos. O parlamentar diz que ações como essa são uma espécie de convite a uma mudança de cultura. A ideia é reduzir a utilização de materiais que, efetivamente, não são essenciais. “A gente tem que perguntar por que precisa de um canudo plástico para tomar uma bebida, por exemplo, é um item supérfluo”, comenta.

A partir da percepção que que não há uma necessidade tão grande do plástico, argumenta Sgarbossa, começam as modificações de hábitos, como a utilização de sacolas de panos para levar as compras do supermercado ou, pelo menos, a diminuição do uso das embalagens plásticas. O vereador concorda que é preciso resolver a questão do descarte incorreto dos resíduos. No entanto, Sgarbossa ressalta que esse objetivo não supera o fato de que a maioria das pessoas usa mais plásticos do que o necessário. Para provar seu ponto de vista, o parlamentar ressalta que, normalmente, os puxa-sacos que guardam as sacolinhas nas casas das pessoas estão abarrotados, sendo um excesso.

“O primeiro “R” não é o do reciclar, é o de reduzir”, defende o vereador. Para Sgarbossa, a ideia da reciclagem acabou sendo uma espécie de salvo-conduto. “Eu compro tudo depois mando para reciclagem, mas nem tudo é reciclável”, frisa.

Sobre os valores das penalidades e a fiscalização da nova regra, o parlamentar comenta que a questão pode ser regulamentada pelo poder Executivo. Além da limitação aos canudinhos, Sgarbossa possui projetos de restrição a outros produtos plásticos como o “Chega de sacolas” e o Mais amor, menos isopor”.

Oceanos sofrem efeitos e figuram entre os meios mais prejudicados

Pesquisa estima que 8 milhões de toneladas de resíduos são despejadas nos mares a cada ano
Pesquisa estima que 8 milhões de toneladas de resíduos são despejadas nos mares a cada ano. /FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC

Estudo divulgado pelo Marine Pollution Bulletin indica que a poluição plástica dos oceanos custa anualmente à sociedade cerca de US$ 2,5 trilhões, o equivalente a R$ 9,5 trilhões em recursos danificados e perdidos. A pesquisa estima que 8 milhões de toneladas de resíduos são despejadas irregularmente nos mares de todo o mundo a cada ano.

A pesca, a aquicultura (produção de organismos aquático), as atividades recreativas e o bem-estar global são afetados negativamente pela poluição plástica, com um declínio estimado de 1% a 5% no benefício que os humanos obtêm dos oceanos, segundo o trabalho. O custo resultante desses benefícios, conhecido como valor do ecossistema marinho, totaliza os US$ 2,5 trilhões por ano.

A analista de projetos ambientais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Janaina Bumbeer, ressalta que esse impacto é calculado apenas a respeito do ambiente marinho. Ela detalha que cerca de 80% dos resíduos que chegam aos oceanos vêm dos continentes, através dos rios que desembocam no mar. “Tudo que a gente acaba gerando de lixo, uma hora ou outra, acaba chegando aos mares”, alerta. Seguem para o oceano muitas sacolas, copinhos, canudinhos e garrafas PET (artigos que são usados apenas uma vez e descartados).

Janaina recorda que a concentração de plásticos no oceano acabou formando uma “ilha” desses resíduos, situada no Hemisfério Norte, no Pacífico. As correntes marítimas fizeram com que esses rejeitos se acumulassem em quilômetros de extensão e profundidade.

A analista de projetos ambientais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza frisa que entre os maiores problemas que o plástico gera no meio marinho está o estrangulamento de animais que se enroscam no material e a ingestão dessas resinas pelos bichos.

Janaina sustenta que, por ser um enorme problema, a questão do plástico não pode ser atacada de uma forma apenas. “O descarte é um ponto a ser abordado, mas a gente tem que reduzir a quantidade de lixo gerada e isso passa tanto pela indústria quanto por nós consumidores”, destaca.

Braskem e Abiquim traçam como meta reciclar 100% de embalagens

Reciclar o máximo de material plástico possível é um objetivo propagado pela indústria desse setor. A diretora de reciclagem e Plataforma Wecycle da Braskem, Fabiana Quiroga, informa que o compromisso firmado pela maior petroquímica nacional, assim como pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), é de até 2040 conseguir que 100% das embalagens plásticas sejam reaproveitadas, através da reciclagem mecânica e química. Acordo semelhante também foi fechado por entidades internacionais representantes do segmento.

“A gente acredita que em 2040 vamos poder reciclar 100%, mas para isso é preciso ter desenvolvimento tecnológico”, diz Fabiana. A especialista comenta que é necessário possuir diversas soluções disponíveis porque, por exemplo, alguns polímeros verificam restrição de uso para embalagens de alimentos. Assim, além da reciclagem mecânica, outras respostas compreendem o reaproveitamento químico, que transforma em novos os produtos que voltam para cadeia. A diretora da Braskem julga que, para determinados casos, a recuperação energética (geração de energia com o resíduo) seria outra opção.

Fabiana defende que é muito importante ter uma comunicação mais clara de uso consciente e descarte adequado, antes de falar em banimento do plástico. A integrante da Braskem defende que é preciso avaliar qual o impacto de uma eliminação de um produto no mercado, se tem substituto, e se o artigo alternativo é de fato uma opção melhor ecologicamente olhando sob todos os aspectos, não somente de geração de resíduos, mas de uso de terras, de emissão de CO2 e se é reciclável ou não. “Caso contrário a gente, como consumidor, começa a tomar decisões de forma inadequada achando que está se solucionando um problema e acaba criando vários outros”, argumenta.

A diretora de reciclagem e Plataforma Wecycle da Braskem diz que há locais que adotaram o banimento das sacolas plásticas e acabaram aumentando o uso dos sacos de lixo que, por serem mais pesados, contêm mais plásticos. Em relação ao reflexo econômico no mercado, Fabiana argumenta que as restrições são muito específicas para determinadas aplicações que, normalmente, utilizam pouco volume de plástico. Os possíveis impactos são amenizados por avanços das resinas termoplásticas em outras áreas, como na agricultura, indústria automobilística, entre outras. Porém, a dirigente admite que a apreensão está em repassar uma informação, segundo ela inadequada, que o plástico não é uma boa solução. “O que mais nos preocupa é uma visão equivocada de um material que traz muitas soluções sustentáveis”, argumenta.

Reutilizáveis viram alternativa ao descartável

Personalização do Meu Copo Eco pode conectar marcas à atitude positiva
Personalização do Meu Copo Eco pode conectar marcas à atitude positiva. /MEU COPO ECO/DIVULGAÇÃO/JC

O maior problema do plástico quanto ao meio ambiente é se tratar de um item descartável. Nesse sentido, uma alternativa que está ganhando espaço são copos feitos de resinas termoplásticas, mas reutilizáveis. A integrante da área comercial do Meu Copo Eco, Betina Brentano, destaca que esse tipo de produto é muito utilizado em festas de rua e também em eventos maiores, fechados.

Os copos ecos são de plásticos, contudo, utilizam resinas diferentes das dos similares descartáveis. O material empregado é o polipropileno 5 que é fácil de reciclar, mais consistente e possível de reaproveitar várias vezes. O produto pode ser personalizado e diversas pessoas levam para casa como recordação. “Ao mesmo tempo que está eliminando o uso dos descartáveis, está conectando a marca à uma atitude positiva”, salienta Betina. Também há bares que fazem uso desses copos, pegando-os emprestados, sem custo. A remuneração da Meu Copo Eco acontece através dos itens que serão vendidos aos consumidores finais e também é cobrado um valor de higienização, que é de R$ 0,10 por unidade.

Betina argumenta que o Copo Eco já está inserido no gosto do público mais jovem. “Essas pessoas, inclusive, já saem de casa com seus copos para irem aos eventos”, destaca. Porém, ela comenta que os mais idosos têm mais relutância em trocar de hábitos. “É algo que veio para ficar, porque não utilizar copos descartáveis se tornará uma lei em breve”, projeta. Outro nicho que se apresenta é o de empresas que querem adotar políticas ecologicamente mais sustentáveis. A Petrobras foi uma dessas companhias.

No ano passado, no Dia Mundial do Meio Ambiente (comemorado em 5 de junho), a Petrobras Distribuidora convocou sua força de trabalho em todo o País a participar da campanha “Dia Sem Copo Descartável” e trazer de casa seu próprio copo ou caneca. Em um dia, e apenas na sede da empresa, no Rio de Janeiro, eram descartados cerca de 11,5 mil copos plásticos de água ou cafezinho.

De junho do ano passado ao mesmo mês em 2019, cerca de 1 milhão de copos deixaram de ser descartados no lixo no prédio da empresa com a iniciativa. No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), são consumidos 720 milhões de copos descartáveis por dia, que empilhados equivalem a uma volta e meia na terra e demoram mais de 400 anos para se decompor.

Indústria da celulose vê oportunidade a ser aproveitada

De Marco destaca que exemplos estão cada vez mais presentes de substituição de materiais plásticos
De Marco destaca que exemplos estão cada vez mais presentes de substituição de materiais plásticos. KLABIN/DIVULGAÇÃO/JC

O mercado odeia a estagnação e onde um setor da economia enfrenta dificuldades, outro vê possibilidades. Nesse sentido, se por um lado o segmento do plástico sofre com as restrições e imagem negativa, outros agentes, como é o caso da indústria de papel e celulose, veem uma chance de abocanhar novos negócios.

O gerente Corporativo de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin, Júlio Nogueira, comenta que uma mudança significativa no padrão de consumo mundial está em curso, afetando diretamente os produtos e suas embalagens. A busca por embalagens mais leves, reutilizáveis ou recicláveis trará uma nova dinâmica para essa cadeia, impulsionando a utilização de soluções de fontes renováveis e biodegradáveis, aposta.

Nogueira diz que os consumidores estão mais conscientes sobre a dimensão dos impactos ambientais e começam a cobrar das grandes marcas soluções alternativas, ou por serem recicladas com maior facilidade ou por apresentarem cadeias de reciclagem mais bem estabelecidas, como é o caso de matérias-primas à base de celulose, segundo ele. O gerente de Desenvolvimento de Produto e Marketing da Klabin, André De Marco, complementa que exemplos cada vez mais presentes de substituição de materiais plásticos são copos em papel cartão, embalagens cartonadas para líquidos (como para o leite), além do desenvolvimento de canudos e hastes de cotonetes de papel e sacos de papel kraft (mais resistente) com barreiras especiais, que têm ganhado espaço no mercado de café, de fertilizantes e argamassas.

Pelo fato da cadeia de fibras celulósicas possuir um alto índice de reciclagem, isto motiva a coleta e reaproveitamento de materiais, mesmo quando associados a outros insumos, devido ao valor importante que representa. “Como exemplo, hoje existe uma demanda considerável para a reciclagem de copos de papel, mesmo quando associados ao polietileno”, aponta.

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